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Muitas vezes o meu cliente não é a pessoa que tem o vício, mas alguém que está próximo e que se importa o suficiente para se dispor a aprender a ajudar. Essa ajuda indirecta não será o suficiente para acabar com o vício no outro, mas pode começar a mudar o ambiente, a comunicação, os relacionamentos e mesmo as rotinas e, quem sabe, chegar a abrir alguma “porta” para que ele aceite começar a trabalhar para deixar o vício.

 

Não faças força!

Algumas abordagens que trabalham com os vícios, focam em regras, contratos, compromissos. Isso é muito interessante quando a pessoa já reconhece que tem um problema e está disposta a trabalhar para o resolver (e mesmo aí eu tenho algumas dúvidas quanto à necessidade de estratégias muito duras). Mas a maioria das pessoas nesta situação nega que tenha algum problema. Então, um “compromisso”, seja do que for, não é opção.

Tenho ouvido muitos familiares falarem de supostas estratégias, como cortar a net, ralhar constantemente, criando um ambiente insuportável ou mesmo pô-lo fora de casa. Eu não concordo que se deva pactuar ou permitir comportamentos destrutivos, mas estratégias mais duras, por exemplo de ruptura de relacionamento, só devem ser usadas quando se esgotaram completamente todas as outras opções. E mesmo assim, deve ser usada como um último recurso, uma última tentativa não de vingança ou destruição, mas de que ele caia em si e, eventualmente, se disponha a trabalhar para mudar.

A força pode quebrar, pode destruir, mas raramente traz restauração.

 

Comunicação positiva

O LisboaCounselling está a desenvolver uma abordagem muito própria, de baixo risco, de perseverança, de avanço passo a passo pelo lado positivo da situação. Esta abordagem é, sem dúvida, bastante “anti-natural”, seguindo um percurso oposto à maioria das abordagens usadas em Portugal.

Mas então, o positivo é permitir a autodestruição? É paparicar uma pessoa que está completamente errada? Não! De forma nenhuma! No entanto, dizer-lhe que ele está errado não resulta. Se tens esse problema em casa, já estarás cansado de usar essa estratégia, sem qualquer resultado… ou até mesmo com o agravamento da situação.

Então, o que significa usar comunicação positiva? Numa primeira fase, é importante a abordagem ser leve, tentativa. Identifica o pouco que ainda haja de positivo, as atitudes “normais” que ele ainda tenha. Por exemplo, se tens um filho viciado em jogos da net mas que ainda se senta à mesa convosco para jantar, que aceita ir passear o cão ou ir ao supermercado buscar umas coisas, ou até ir tomar um café contigo, tenta perceber que isso ainda são comportamentos do “mundo dos vivos”.

No vício, seja ele qual for, a pessoa começa a afastar-se cada vez mais dos hábitos considerados normais. Em fases mais avançadas, a pessoa pode já se ter desligado completamente dessas rotinas que todos nós seguimos. Então, se o teu “viciado” ainda mantém alguns desses hábitos corriqueiros e, aparentemente, de pouca importância, percebe que isso é um ponto de acesso que ainda tens a ele.

 

Gerir positivo vs negativo

Esses pequenos comportamentos positivos ou “normais” que ele tenha, devem ser identificados, valorizados e incentivados (de forma muito leve, claro!).

Quanto ao negativo, ao comportamento destrutivo que se repete, é preferível não falares dele, a não ser que possa colocar alguém em risco, claro. Esta é uma das nossas estratégias que podes achar absurdas e impossíveis de colocar em prática. No entanto, provavelmente já falaste do vício imensas vezes, sem qualquer resultado – é provável que, apesar dos teus “esforços”, o vício tenha vindo a piorar. Então essa abordagem não é eficaz. Até pode estar a indirectamente incentivar ou exacerbar o vício.

 

Focar no positivo 

Não o critiques nem envergonhes, principalmente na presença de outras pessoas. Em vez disso, surpreende-o. Deixa de dizer as mesmas frases que sempre dizes e que ele já nem ouve. Em vez de colocares a mensagem no “tu”, coloca-a no “eu”. Por exemplo, em vez de dizeres “tu precisas de sair mais de casa”, podes dizer “eu gostava de ir a… (algum sítio que faça sentido para ele) e queria companhia. Vens comigo?”

A grande diferença é não falar da coisa que não é suposto fazer (como o vício), mas daquela que é suposto, algo leve, positivo e que ajude a afastar, mesmo que só por um pouco, da prática do vício.

Tu não és o responsável pelo vício de outra pessoa, mas procura não ter atitudes que vês que encorajam o vício. É um pouco como dizeres “se queres destruir-te, eu não vou ajudar a que isso aconteça”.

E reforça a vossa relação. É importante haver alguém que ainda tenha acesso a ele. Procura manter essa porta aberta, mesmo quando não apetece.

 

Cuidar do cuidador

Numa situação tão difícil e desgastante como o lidar com um vício, é indispensável trabalhares o teu fortalecimento interior, resiliência e ferramentas não só para sobreviveres mas para te manteres em boa forma.

Procura gerir com sabedoria as tuas emoções. Quando elas estão ao rubro, é preferível fechares a boca e afastares-te. Não é desistir, mas perceber que essa não é a hora certa para falar. É uma retirada “estratégica” para recuperar as forças, gerir as emoções, planear o que fazer a seguir.

 

O objectivo nunca é pactuares com a destruição do outro, mas ajudá-lo a sair dela. Para isso precisas de força interior, muita perseverança e capacidade de planear e ajustar estratégias. No próximo artigo, irei falar acerca do tipo de apoio que podes encontrar no LisboaCounselling.