Palavras não acusadoras, mantêm os ouvidos e a mente do outro abertos, permitem comunicação, permitem que continues a ter acesso a ele. Se é uma relação importante para ti, esse tem de ser o primeiro alvo, manter aberto o acesso ao outro.
Raquel (que te apresentei no artigo anterior) “reaprende” a comunicar com a filha, muda radicalmente o seu vocabulário, linguagem corporal e visão de curto prazo. Percebe que, para alcançar alvos mais desafiantes ou complexos, tem de aceitar dar passos que, olhando apenas a curto prazo, não fariam sentido. A sua visão, deixa de funcionar no impulso, no que parece certo no momento, e passa a ter uma perspetiva mais estratégica.
Deixar de fazer braço de ferro com a filha, foi um dos nossos primeiros passos. A Raquel percebeu que, pela força, nunca iria conseguir recuperar um relacionamento. E pela força ninguém ganha; apenas aumenta cada vez mais o abismo que as separa. Foi um passo difícil, em que a Raquel precisou de perceber, em cada situação concreta, como não se deixar arrastar para o jogo do braço de ferro. Isso começou a reduzir a hostilidade permanente da filha em relação a ela.
A Raquel percebeu que estava constantemente a rejeitar a filha, quando na verdade, o que ela rejeitava eram as suas atitudes. São duas coisas diferentes. Então, começou a ir olhando para a ideia de que pode aceitar a filha (aquela filha!!), apesar de não conseguir aceitar as suas atitudes. Como gerir isso?
Implementámos competências de comunicação positiva, não acusadora. Isto é muito diferente de permissividade. Então, começámos a definir limites, dentro da ética e do respeito para ambas as partes, mas sempre implementados usando ferramentas de comunicação positiva, nunca pelo confronto.
A Raquel conseguiu desenvolver leveza suficiente para manter uma conversa com a filha sem a hostilizar, e mesmo para dizer o que pensa quando lhe é perguntado, falando no “eu” e não no “tu”, falando no positivo e não no negativo. Por exemplo, em vez de lhe dizer “O teu cabelo está horrível com essas rastas nojentas!” (falando no “tu” e criticando duramente), dizer “Gosto mais quando o teu cabelo está solto” (falando no “eu”, na sua opinião, sem condenar a filha).
Com o passar das semanas, a Raquel aprendeu a estar com a filha, a usufruir dela, sem se deixar arrastar para temas ou situações com que não concorda. E, interessante, a Sara voltou a procurar a companhia da mãe, a querer fazer coisas com ela. A relação, a comunicação, o acesso à filha, foram restaurados.
Se queres comunicar com alguém, numa relação que percebes que já quase não existe, o primeiro passo é recuperares o acesso a essa pessoa.