+351 914 971 340 (Chamada para rede móvel nacional) info@lisboacounselling.com

Se conheces alguém que está a viver uma situação de abuso físico ou psicológico, o teu apoio pode fazer toda a diferença. Mas não percas nunca a noção de que estás a lidar com um predador; não coloques a tua amiga/o em maior risco do que já está!

 

Tentar “salvar” um casamento, numa situação de violência doméstica, pode ser uma atitude cruel e de grande insensibilidade; pode ser mais uma pressão sobre aquela pessoa que já está no limite das suas forças. Isso é algo que os agressores muito apreciam, o ter outras pessoas (muitas vezes da família da vítima) a pressioná-la para ela se manter na relação, para ser mais compreensiva.

Violência doméstica não é o mesmo que conflitos. E não pode ser tratada da mesma forma. Se queres ajudar uma pessoa amiga que está nessa situação, precisas de ter o cuidado de não lhe dizer o que fazer com a sua vida. Só ela pode decidir o que vai ou não fazer.

 

Pactuar

Por outro lado, não fazer nada é pactuar e encorajar a continuação do abuso, muitas vezes também sobre os filhos. Quando vês que alguém próximo de ti está a ser de alguma forma maltratado ou pressionado, e não fazes nada, estás a ser cúmplice do agressor.

 

Riscos

É importante perceberes que VD é sempre uma situação de risco, mesmo que não o pareça (a grande maioria das mortes é provocada por um companheiro de quem ninguém esperaria isso; alguém que toda a gente achava tranquilo, amigo, respeitador, …).

Nunca tentes convencer uma vítima de VD a manter-se na relação nem lhe dês conselhos que possam agravar a sua situação ou aumentar o risco.

Se queres ajudar, precisas de ter paciência e não pressionar nem apressar. Quem está a viver essa realidade, está numa grande pressão mental que reduz a sua clareza de ideias e capacidade de ver ou decidir. A ajuda, não deve ser no sentido de levar essa pessoa a tomar uma decisão. Há muito trabalho a fazer antes disso (a não ser que a situação te pareça de grande risco; aí deves procurar ajuda especializada).

 

Identifica

Mantém-te atento/a a sinais de alerta (nos meus artigos anteriores há muita informação que te pode ajudar nesse sentido). Lembra-te que normalmente a vítima de VD não tem a noção da realidade que está a viver. Não adianta tentares “obrigá-la” a perceber que as atitudes dele são abusivas. Isso, embora possa ser bem intencionado, acaba por ser mais uma forma de pressão sobre ela.

 

Ouve

Não minimizes o que a vítima te diz. O que ela conta não é a sua versão exagerada; é apenas uma pequena parte da realidade. Uma pessoa que está a ser maltratada em casa, tem muita dificuldade e pode demorar muito tempo a tomar consciência disso; começar a falar do que se passa, é ainda mais difícil. Não “dês o desconto” ao que ela te diz. O que ela começa a partilhar contigo, é apenas o topo do iceberg.

A principal característica desta situação são os requintes de malvadez, absurdos ou embaraçosos e sempre muito difíceis de acreditar (estratégia que o agressor usa para desacreditar a vítima e fazer parecer que ela está a inventar ou não está bem da cabeça).

Mostra-te disponível para ouvir e ajudar, mas não fiques só no nível do desabafo. Este mantém a ferida aberta, aumentando a sensação de gravidade do problema. Podes ajudar a tua amiga de formas mais práticas.

 

Aspectos práticos

Uma situação de VD vai provocando uma desestruturação progressiva na sua vítima. Então, uma forma muito prática de seres útil, é ajudando-a a organizar-se nas tarefas simples do dia a dia, nas suas rotinas; ajudar a perceber onde ela está a ter dificuldade, o que não está a conseguir fazer, e ajudar a organizar-se nessas áreas; ajudá-la a começar a melhorar a sua auto-imagem; a aumentar a sua capacidade de lidar com contratempos ou contrariedades, ajudando-a a definir formas práticas de agir nessas situações, em vez de ficar bloqueada na sensação de que tudo é culpa dela.

 

Pausas

Muito importante, no apoio a uma vítima de VD, é ajudá-la a recuperar a capacidade de fazer coisas leves e “banais”, usufruir das pequenas coisas, sem ter que se sentir sempre culpada de estar a fazer algo que não é suposto. Os momentos leves, conversas ligeiras e positivas, o recuperar a capacidade de rir, são aspectos que podem criar umas pequenas pausas da realidade horrível e ajudá-la a manter alguma sanidade mental.

O fazer coisas “normais”, é muito importante para alguém que esteja a viver uma realidade distorcida. Algo como caminhar juntas ou tomar um café, pode fazer toda a diferença no dia dessa pessoa e na sua saúde mental.

Mas não percas nunca a noção de que estás a lidar com um predador. Procura nunca colocar em risco a pessoa que estás a tentar ajudar!

 

Violência doméstica é crime. Recusa-te a seres cúmplice desse crime!