Counselling não abre uma caixa de Pandora. Não pretende levar o cliente a tomar consciência do seu problema, mas a começar a fazer um caminho de saída, tomando plena consciência desse percurso, das diferenças que consegue e de como as consegue. Ou seja, counselling não analisa o problema, mas analisa a sua dinâmica e a forma como o estamos a conseguir ir mudando. É esta análise e adaptação das ferramentas e estratégias, que nos leva a avançar tão rapidamente na resolução do problema.
Não agravar o problema
Muitos clientes chegam até mim, depois de já estarem a seguir o meu trabalho há meses, tentando arranjar coragem. Isto, porque há muito a ideia de que ao entrar num processo de terapia, isso vai começar por agravar o problema para depois então o começar a reduzir.
Em counselling isso não acontece. Nós começamos precisamente por reduzir o impacto do problema e aumentar a capacidade do nosso cliente, para depois avançar para os passos seguintes.
Exemplos práticos
Depressão – aqui, não vamos analisar as emoções, causas, traumas ou eventos do passado, porque isso vai aumentar a intensidade da depressão, podendo até aumentar o risco de tentativa de suicídio. Vamos começar por reduzir o seu impacto, ensinando o cliente a fazer umas pequenas pausas nas emoções negativas; a conseguir por uns momentos deixar de estar debaixo daquele peso, a relembrar como é estar no mundo dos “vivos”, a constatar que consegue e a perceber como o conseguiu. Começamos logo desde a primeira sessão a gerir a produção de bioquímicos, reduzindo a produção de cortisol e aumentando a das hormonas positivas que vão promover emoções também mais positivas. Ou seja, em vez de medicação, o cliente vai produzir esses bioquímicos de que realmente precisa.
Ataques de pânico – começamos por ensinar ferramentas para desacelerar, para baixar o ritmo do corpo e das ondas cerebrais, para conseguir segurar a mente e interromper a espiral de curto circuito em que ela entrou. Ajudamos a entender como esses ataques são muito “físicos”, como há uma série de coisas que estão a acontecer no nosso corpo físico durante um ataque de pânico e como podemos começar a desativar esse “furacão”. Com treino, a pessoa aprende a desativar um ataque de pânico em poucos minutos. Aprende a identificar os riscos reais que pode haver (por exemplo, se os ataques acontecem quando a pessoa está a fazer algo que possa tornar-se perigoso). E aprende a deixar de ter os ataques.
Ansiedade – ajudamos a perceber o funcionamento da ansiedade “constante” e como começar a fazer pausas nela e a reduzi-la; a identificar triggers que a desencadeiem; a perceber que consegue ter mão nela.
SOS
Nas situações em que possa haver crises mais fortes, desenvolvemos um Plano SOS, com passos muito práticos e específicos, sempre ferramentas que o cliente já está a usar e conhece bem, mas organizadas para lidar com uma situação de emergência e conseguir ultrapassá-la em menos tempo e com menos riscos e “custos”.
Também em pensamentos suicidas, para além de todo o trabalho de fundo, fortalecimento mental e emocional, produção de hormonas positivas, auto-organização, auto-imagem (senso de valor e dignidade), etc. criamos um plano de ação com estratégias e passos específicos, para conseguir sair dos pensamentos negativos quando eles surgem, para conseguir identificar e afastar-se de situações potencial/ perigosas. Em casos mais graves e sempre que possível, procuro também ter o apoio de familiares ou amigos próximos do cliente. Nestes casos, muitas vezes eu faço também o “treino” desse familiar ou amigo, para que ele possa estar preparado tanto a ser um apoio eficaz numa crise maior, como a gerir as suas próprias emoções ao lidar com uma situação por vezes tão angustiante e assustadora.
Uma das áreas básicas do trabalho de counselling é sempre a gestão de riscos, seja de crises ou agravamento da condição do cliente, seja, em situações de relacionamentos muito difíceis, bullying ou violência doméstica, de o risco de agressão aumentar.
Em casos mais leves, em que o cliente não esteja num risco real, faço apenas eu essa gestão – tendo cuidado para que ele não piore, observando o impacto das ferramentas usadas e reajustando-as, prevendo e gerindo as naturais oscilações emocionais de um processo destes.
Quando pode haver qualquer risco maior, sempre ajudo o cliente a prever, a perceber o que pode acontecer em determinada situação, ou se ele usar determinada ferramenta, a ter planeado como agir perante cada tipo de risco.
A autonomia e capacidade de auto-gestão do cliente, é fundamental nesta abordagem de baixo risco.
Mena Santos Galvão