Gerir o envelhecimento dos pais é inverter um papel – aqueles que cuidavam, agora precisam de ser cuidados.
Muitos pais, apesar de serem perfeitamente autónomos e conseguirem gerir a sua vida, ter amigos, fazer o que querem, colocam sobre os filhos enorme pressão, cobranças, manipulações. Ao longo dos anos, isto acaba por corroer não só a saúde e bem-estar destes, mas também o seu casamento, o seu núcleo familiar.
O azedume dos outros, não é culpa tua
Os pais que eram difíceis quando cuidavam, podem tornar-se ainda mais difíceis quando precisam que cuidem deles. Muitos, ao irem perdendo capacidades, vão ficando mais amargos, vão cobrando e exigindo cada vez mais. Isto cria um efeito de bola de neve – quanto mais pressão eles colocam sobre os filhos, mais desagradável é estar com eles e o tempo juntos vai diminuindo, o que faz com que esses pais cobrem ainda mais, exijam mais e se mostrem mais dependentes como estratégia para agarrarem os filhos mais tempo. Em muitas relações, a dependência ou necessidades dos pais, a “obrigação”, tornam-se a principal ou mesmo única razão para os filhos passarem tempo com eles.
Mães difíceis podem ser um desgaste terrível
Embora haja imensos pais com problemas graves, são as mães quem mais tenta manter uma dependência pouco saudável em relação aos filhos.
Muitas pessoas têm de telefonar todos os dias à mãe; têm de ouvir críticas, cobranças ou maledicência. Mães que telefonam a qualquer hora; que pedem ajuda que, na realidade, não era necessária; que tentam interferir no casamento dos filhos e na educação dos netos.
Para estes filhos, que têm de gerir os seus próprios problemas, no trabalho, na família, gerir filhos por vezes também difíceis, esta pressão constante que a mãe (ou o pai) coloca sobre eles, pode levá-los a viver num modo de exaustão mental e emocional permanente.
Os sentimentos de culpa, alimentam essa relação doentia
Em muitas famílias, é através da culpa que os pais tentam “agarrar” os filhos. Sentes culpa por não lhes dares toda a atenção que eles querem, por teres momentos em que já não aguentas, por às vezes também dizeres coisas erradas. E na “fraca” memória destes pais, todas estas tuas culpas são bem lembradas e sempre trazidas à superfície.
Essa constante culpabilização, cria um bloqueio emocional tão grande nos filhos, que os impede de olhar para a situação de forma racional. Encontro pessoas que conseguem fazer uma boa gestão de relacionamentos no trabalho mas que, com os pais, se sentem incapazes. Pessoas que vivem em dois mundos distintos: por um lado, a sua vida pessoal e profissional e, por outro, a sua relação com os pais. Pessoas que se sentem profundamente mal nessa relação, mas não sabem o que fazer diferente – e pior, que acreditam que não podem fazer nada diferente; que só lhes resta aguentar.
“Eu sei que não é possível ter uma boa relação com a minha mãe, mas queria pelo menos aprender a proteger-me, a não ficar tão devastada de cada vez que falo com ela.”
É possível teres uma relação positiva com os teus pais
Por muito difícil que o teu pai ou mãe seja, podes aprender a construir uma relação mais saudável com ele/a. Tenho ajudado muitas pessoas a desenvolver uma boa relação com pais que eram impossíveis. Mas essa relação tem de ser construída com a profundidade que for possível. O foco naquilo que não é alcançável, pode impedir-te de perceberes e alcançares o que seria possível. Com alguns pais, conseguimos apenas desenvolver uma relação superficial, mas boa; não conflituosa nem doentia. Esses filhos, podem não ter a profundidade ou intimidade que gostariam com os seus pais mas, em vez de interações sempre tensas e stressantes, passam a ter momentos minimamente agradáveis.
A mudança na vossa relação, tem de ser criada por ti.
Eis algumas ideias que podes começar a colocar em prática:
- Limites são fundamentais em qualquer relação.
Percebe o que é responsabilidade tua, por exemplo a educação dos teus filhos, a vossa relação como casal, e não abras mão dessas responsabilidades.
Define o que os teus pais podem fazer (a ti, à tua família) e o que não podem. Agressão verbal, acusações, cobranças, manipulação, gritos, não devem nunca ser permitidos.
- Procura implementar esses limites, sempre dentro da ética e do respeito. Coloca a mensagem no “eu” em vez de no “tu”. Por exemplo, em vez de dizeres “Não grites comigo”, diz “Eu não vou ouvir isso” (apesar de esta ser uma ferramenta muito útil, podes precisar de ajuda para a implementar na tua realidade específica. Contacta-nos para planearmos em conjunto.)
- Usa o GAP, uma pausa, quando a situação está a ficar muito difícil. Em vez de explodires, arrefece as tuas emoções, antes de continuares a conversa. Podes ver esta ferramenta aqui https://lisboacounselling.com/2022/01/06/2-2-um-minuto-que-pode-mudar-a-tua-vida/
- Estreita laços – ao trabalharmos limites, é natural começar a criar-se um distanciamento na relação. Então, para evitares isso, cria momentos que tenham como objetivo o estreitar da relação: quando vais estar com eles, leva “agenda”, algum tema ou atividade que eles gostem, mesmo que superficial; tenta ter momentos agradáveis juntos, mesmo que muito breves. Usa a conversa leve, o rir juntos.
- Procura perceber o que é possível. Não tentes ter conversas sérias, se não houver condições para isso. Antes, empenha-te em construir uma relação mais leve, menos opressiva e reduzir o desgaste de todos.
A qualidade da tua relação com os teus pais, está nas tuas mãos. Se na tua situação achas difícil implementar estratégias de mudança, contacta-nos. Iremos ajudar-te a perceber o que podes melhorar na vossa relação.